domingo, 9 de maio de 2010

Londres - 1 Semana


Eu queria ter publicado este post na sexta-feira (o verdadeiro aniversário de 1 semana em Londres), mas, devido ao cansaço, não deu (e o mesmo vale para ontem - a gente tem caminhado em torno 4 a 5 horas por dia).

Nesta primeira semana aqui, deu para sentir o clima da cidade. Londres é a maior cidade da Europa e, também, uma das maiores cidades do mundo. Isso significa que a capital da Inglaterra é uma cidade ultra-cosmopolita, o que é totalmente verdade: é simplesmente impossível caminhar dois minutos na rua em qualquer direção e não ouvir alguém falando outro idioma que não o inglês.

A cidade abriga uma enorme quantidade de indianos, povos africanos (de diversas nacionalidades e origens), turcos, árabes, chineses, italianos e franceses. Também dá para encontrar fácil brasileiros, espanhóis, coreanos, japoneses, uns poucos alemães, uns poucos americanos e, pasmem, até mesmo ingleses! ;)

Com um pouco de experiência, fica fácil identificar cada um desses povos. Alguns são óbvios, como os orientais, africanos (mas estes você precisa ouvir a fala, porque existe uma boa quantidade de afrodescendentes naturais de Londres) e indianos. Outros, é só prestar um pouco de atenção: se for barulhento e falar alto, trata-se de um italiano; se estiver vestindo camiseta floreada e multi-colorida e boné, é um americano; se "olhar de cima" e for muito calmo, trata-se de um inglês. O que eu posso dizer da minha experência até aqui, é: todos os estereótipos que você viu nos fillmes de Hollywood são verdadeiros.

Temperatura

Um típico dia londrino

Os dias em Londres são claros, mas não de céu azul e sol brilhante como no Brasil. Pelo menos não agora, no início de maio. A luminosidade é mais ou menos a mesma o dia inteiro, e tem luz até lá pelas 19h30-20h (dizem que no verão a luz do sol vai até às 22h). No geral, o dia é claro, mas encoberto por nuvens - o que torna os dias de céu azul ainda mais especiais. Vi o sol apenas umas poucas vezes desde que cheguei aqui e, apesar dos dias claros, nada de luz brilhante e raios de sol.

A temperatura (pelo menos por enquanto) gira em torno dos 10o C. Ela sobe um pouco no meio da manhã, e cai do meio pro final da tarde. Ainda não peguei nenhum dia quente de verdade, daqueles em que dá para andar de manga curta (apesar de isso não ser um problema para os ingleses, que andam de manga curta no mais frio dos ventos!).

A chuva não é uma constante, e a previsão do tempo normalmente acerta. Ainda não vi a tal fog londrina, tão famosa no mundo inteiro (e isso que eu acordo todos os dias muito cedo). Um típico final de tarde londrino

Moda

É fácil saber o que vestir aqui em Londres: vale de tudo. Não interessa o quão desconexo, não-combinante e ridículo possa parecer aos olhos de alguém - está valendo. A moda aqui é aquela que você faz para si mesmo. É claro que existem grupos que usam roupas parecidas (principalmente tribos como punks), mas, no geral, cada um veste aquilo com o que sente-se confortável. Existem algumas tendências, é verdade, mas elas são tendências e, não, a norma.

A principal tendência para as mulheres hoje aqui em Londres é usar shortinho de jeans bem curto com meia-calça por baixo (preta, colorida ou com alguma estampa), normalmente calçando botas (curtas ou longas). Muitas mulheres também prendem o cabelo em um coque (onde fariam um rabo-de-cavalo), mas apenas para diminuir o comprimento, deixando o resto do cabelo cascatear livre por sobre os ombros e costas.

Não vi muitos homens de cabelo comprido aqui em Londres. Mas dos que eu vi, todos usam o cabelo de uma entre duas maneiras:

* Totalmente penteado para trás, preso em um rabo-de-cavalo ou com uma bandana;

* Solto em penteados espalhafatosos como os das bandas de metal da década de 1980 (sim, isso mesmo!).

Não existe meio termo; ou o cara usa o cabelo comprido de um jeito, ou de outro. Eu, que curto usar o cabelo solto, às vezes chamo atenção (e, tenho que dizer, ainda não vi nenhum homem usando cabelo solto como eu). No geral, a maioria dos homens tem cabelos curtos. Barba também não é uma coisa comum, e é normalmente bem aparada ou com um aspecto mais moderno, tipo "sujo". É comum os indianos usarem bigode.

As mulheres aqui não usam vestido - ou, pelo menos, eu ainda não vi ninguém de vestido. Mas, como o verão ainda não começou e faz frio, talvez elas estejam esperando esquentar (as lojas de roupas femininas anunciam vestidos, então eu acho que em algum ponto verei-os por aqui). Entretanto, as mulheres londrinas usam mini-saias bem curtinhas, tanto para caminhar na rua quanto para sair na noite ou trabalhar (diferente do Brasil, onde mini-saias como as daqui são proibidas em qualquer ambiente de trabalho). No geral, vale qualquer coisa, como eu disse, mas, para o dia-a-dia, eu diria que as mulheres preferem calças pela praticidade.

Os homens também vestem-se de maneira variada: terno completo, ou calça social e camisa, ou um jeans e camisa ou camiseta. Tanto homens quanto mulheres preferem calças skinny e calçados espalhafatosos. As calças skinny estão absolutamente na moda, e estão por tudo. eu diria que 8 entre cada 10 londrinos usa calça skinny no dia-a-dia (tanto homens quanto mulheres). O restante usa calças retas - ou, no caso das mulheres, os shortinhos com meia-calça. Calças bootcut, as minhas preferidas, são fáceis de achar (diferente de Porto Alegre, ainda bem), mas não são muito usadas.

Os calçados são um capítulo a parte. No geral, os sapatos são compridos, terminando em um bico reto (pelo menos para os homens). E a maioria das pessoas usa sapatos. Tênis são bastante usados, mas sapatos parecem a norma (com o clima daqui, é fácil entender). As mulheres são quem mais variam, de sandálias baixas bem abertas a coturnos plataforma acima do joelho.

Uma coisa bastante visível no que tange os calçados é que eles normalmente se destacam bastante do resto que a pessoa está vestindo; principalmente pela cor berrante e chamativa. É normal ver alguém de tênis verde limão com detalhes em rosa choque vestindo jeans cinza, camiseta branca e casaco de couro marrrom.

Como eu disse, aqui em Londres vale de tudo, e se existe um padrão, parece ser o da individualidade no vestir - as pessoas parecem dizer "este sou eu, e eu curto me vestir assim" (claro que existe um forte componente de rebeldia e quebra com os padrões da moda, principalmente entre os mais jovens).

Agora, se existe alguma cor banida do dia-a-dia londrino, é o verde. Só as pessoas mais arrojadas ou corajosas o usam. É a cor menos usada, e a mais rara de se ver (óbvio que todos os dias e uvejo alguém vestindo verde, seja uma camiseta, moleton, tênis ou só os cadarços, mas, vejam bem, é só uma vez por dia).

Alimentação


A ultra-diversidade de povos influencia diretamente a alimentação em Londres. Existem restaurantes de todos os tipos, preços e tamanhos, e de todas as culinárias, povos e etnias. As cantinas, restaurantes e cafés italianos estão espalhados por tudo (literalmente). A comida indiana também é uma constante, mas não tanto quanto a italiana (por exemplo, a cada duas ou três quadras tem um estabelecimento italiano, mas a região inteira só tem um ou dois indianos).

Também há muitos restaurantes chineses, tailandêses e vietnamitas espalhados pela cidade. É claro que as super-cadeias de comida também se fazem presentes em Londres, especialmente o Starbucks. Há um Starbucks em cada quadra e avenida, sem exagero. McDonald's e Subway também estão por todos os lados. Pret a Manger (sanduíches e afins) e Costa (café), que eu não conhecia, também são duas franquias gigantescas, espalhadas pela cidade afora.

É claro que eu não vou deixar de fora os muitos pubs, com suas muitas bebidas e petiscos. Os pubs também estão por tudo, mas em termms de estilo, dão de dez a zero nas grandes franquias: enquanto o Starbucks fica na avenida principal ou logo na saída do metrô, os pubs ficam nas ruas e vielas secundárias ou mais escondidas, longe do agito (sim, existem pubs nas principais ruas e avenidas, só não são o mais comum). A parte externa dos pubs são sempre em madeira, com grandes letras douradas sobre um fundo escuro. É o verdadeiro clima londrino.

É óbvio que eu já experimentei fish 'n' chips, o mais famoso prato londrino. Uma posta de peixe inteira frita, com batatas fritas e, às vezes, alguma salada com um molhinho à escolha do cliente. Eu gostei bastante. Também já provei cerveja na temperatura ambiente (embora muitos lugares ofereçam todas as bebidas geladas, bem ao gosto dos brasileiros), e gostei. No primeiro pub/restaurante que eu entrei, bati-um-papo rápido com o barman e perguntei a diferença entre cerveja normal e ale (que eu não sabia qual era) - resultado? Ele me deu uma prova de cada. :D

O que me leva ao próximo tópico.

Serviços

Em Londres, você compra qualidade. E, se a qualidade não é o forte, então você compra quantidade. Os serviços aqui são sempre nivelados por cima. O atendimento é normalmente muito bom ou, na pior das hipóteses, satisfatório (você consegue o que queria, mas é tudo muito frio - ainda que com "bom dia/tarde/noite" e "até logo/mais"). Sim, eu já fui mau atendido aqui, por uma indiana em uma loja de celulares; ela viu que eu não queria nenhum plano, fidelidade e essas coisas, e fez de tudo para eu não entender uma palavra sequer dela. Numa outra loja o caixa pediu até o meu passaporte para aceitar meu cartão de crédito, mesmo depois de a compra já ter sido efetuada, mas, neste último exemplo, ele estava apenas seguindo a operação padrão que nem aqui no Primeiro Mundo a gente vê. Mas, voltando ao ponto.

A comida aqui é sempre gostosa e bem-feita (mesmo que você não goste de certos pratos), e praticamente tudo tem qualidade. Ainda não comprei nenhum sanduíche de pão velho ("pão dormido"), por exemplo. Como eu disse, quando as coisas não têm tanta qualidade assim, então o cliente ganha na quantidade. Por exemplo, a Aline comprou uma embalagem de sete pares de meia em uma daquelas lojas de bastãotão (a Primark, tipo Renner e C&A) por 2 Libras (mais ou menos 6 Reais - nota: não vou usar os símbolos das moedas porque o editor aqui não os têm).

Existe todo tipo de oferta e, por pouca diferença, o cliente sai ganhando (no fundo, o ideal seria comprar sempre a promoção máxima: se 1 quiche custa 1.30 Libras e 3 quiches saem por 3 Libras, então é melhor comprar três quiches de uma vez). Mas isso leva você a comprar muito mais do que normalmente precisa, gastando o que parece uma diferença pequena, mas que fica grande se você aplica o mesmo raciocínio a todas as suas compras (comprar três quiches e economizar quase 1 Libra vale a pena, mas se você sempre tiver que gastar 3 para economizar 1, não vale tanto a pena assim). Então, às vezes é melhor comprar só uma coca 2 l do que 3 ou 4 (e menos que você beba muita coca-cola).

Gente

Até onde eu vi, todas as pessoas aqui em Londres, independente da nacionalidade, são muito prestativas e bem-educadas. Algumas até podem ser frias, mas são bem-educadas assim mesmo (nunca falta um "bom dia/tarde/noite", "com licença", "por favor", "obrigado", "desculpe" ou "de nada"). Ninguém nunca deixou de me ajudar quando eu pedi direções (qual ônibus pegar, onde descer, linha de metrô, essas coisas) e, quando a pessoa não sabia, não ficava "inventando moda".

Os funcionários no geral (como atendentes de lojas, garçons e policiais) são muito prestativos, e fazem de tudo para ajudar. As pessoas na rua também.

Se tem uma coisa que eu aprendi sobre os ingleses é que eles parecem extremamente frios e distantes, mas, no fundo, são apenas reservados (ou até um pouco tímidos), e estão loucos para bater-um-papo. É bem interessante e divertido conversar com as pessoas daqui.

No metrô (e nos ônibus, em alguns horários), as pessoas normalmente lêem um livro ou jornal, mas sempre olhando para os lados, como se estivessem loucos para conversar com alguém. Esses dias, em um restaurante, sentou um casal na mesa ao lado. Ingleses, sem dúvida. Tanto ele quanto ela não paravam de nos olhar, e dos pés à cabeça. Mal conversaram entre si, mesmo enquanto analisavam a Aline e eu (e nós dois estávamos conversando em português). Para dizer a verdade, os dois até pareciam um pouco hostis. O nosso assunto acabou descanbando para a Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016, e eu fiquei com vontade de perguntar ao casal o que eles achavam de a Olímpiada de 2012 ser em Londres. A Aline chegou a dizer para eu não falar com eles, porque o homem stava com uma cara tão fechada que poderia querer me agredir. Mas eu, sendo quem sou e como sou, tive que puxar conversa... Resultado? O homem e a mulher começaram a falar e não pararam mais! Queriam saber de onde a gente era, o que estávamos fazendo em Londres, se estávamos gostando, para onde iríamos depois, e por aí vai. Ambos foram muito calorosos e receptivos, e bastante abertos a dois estrangeiros como nós.

Isso é uma coisa que eu já percebi sobre os ingleses: frios por fora, mas bastante receptivos por dentro. Esses dias, um inglês que eu conheço disse a verdade das verdades: "Parece que nós [ingleses] não gostamos de vocês, mas a verdade é que não sabemos como começar uma conversa - talvez seja por isso que nós falamos tanto sobre o clima; não sabemos como conversar nem entre nós mesmos". Engraçado, mas muito verdadeiro. Se você realmente quiser conversar com alguém no metrô mas for muito tímido para iniciar a conversa, espere pelos últimos horários, perto da meia-noite - certamente um irlandês bêbado falando mal dos ingleses vai puxar papo com você. :D

Londrinos: malandrinhos como os brasileiros para sair nas fotos dos outros

3 comentários:

  1. Cara que bala esse post.

    A última foto foi a cereja! huahauhauhau

    ResponderExcluir
  2. Noossa, deu pra sentir que os olhos do Gustava tão passeando muito por aí.Deu saudade de Londres e dos dois...

    ResponderExcluir
  3. Olá, boa tarde!
    Legal este post, adorei, tô a procura de informações sobre Londres e este post deu uma clareada nas coisas.
    Obrigada

    Malvina

    ResponderExcluir